domingo, 8 de agosto de 2010

A um ausente / Ao meu Pai Ausente

Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
E como tenho saudade de ti, dos momentos que não passamos juntos, da valsa da minha formatura, que você não dançou, do primeiro namorado que você não fez cara feia, e nem falou cuide da minha filhinha, ai como tenho saudades de você.

Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Quanta raiva eu sinto em alguns momentos, como este que estou vivendo agora, quero saber, quem convidar do teu lado da família, gostaria de entrar na igreja com você, que segurasse a minha mão que estará gelada, como sempre está quando estou vivendo os momentos mais felizes da minha vida.

Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Eu sinto a tua presença em alguns momentos da minha vida, eu sinto até o teu cheiro, o som do teus passos.

Antecipaste a hora.
Porque pai, você foi embora tão cedo da minha vida?
Quantos jogos do Corinthians não assistimos juntos, quantos....

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
Dos nossos dias e momentos que não vivemos

de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Drummond de Andrade / Ana Paula Prado Toledo Piza

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